quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

E agora, o que eu faço?

"Bate mais, quanto mais você me bater, mais dinheiro eu te arranco". Acabei de ouvir isso na TV, num daqueles filmes brasileiros antiquissimos. "E agora, o que eu faço?" pergunta o homem para uma das prostitutas em seu quarto, depois de espancar o outro "Faz como toda a vagabunda, se vira!" ela responde. Eu poderia mudar de canal a qualquer instante, num simples toque no controle remoto, mas não, mesmo que a qualidade da imagem seja péssima e a interpretação dos atores de baixo nível, ainda assim, o filme me fez ter o maior choque de realidade do dia, quisá da semana inteira.

Não foi a sangue que saiu no nariz do ator espancado, muito menos a sirene do carro de polícia que vinha chegando depressa. Não, aquele curto diálogo me mostrou o que eu realmente queria ouvir antes de dormir. Primeiro ele diz "Quanto mais você bater, mais dinheiro eu te arranco", e sim, essa é uma verdade que caberia em muitas situações de nossa vida. Só aprendemos na porrada, nos machucando ou ferindo alguém, sem nem ao menos nos dar conta que no final perderemos muito mais que o tempo gasto na discursão. "Faz como toda a vagabunda, se vira!" ela responde ao apelo do companheiro pagante. Não deixei de sentir um ar de complexidade nisso tudo. Me senti a própria vagabunda, por assim dizer. Estou sozinho na vida, colhendo as coisas que eu planto, buscando e lutando pela minha própria sobrevivência. Não posso ficar tomando conta dos erros dos outros, não posso dar soluções a quem só busca as dúvidas. Eu acho que diria o mesmo que ela naquela situação, mas talvez fosse um tanto menos amargo, porque infelizmente não consigo fazer sexo sem sentimento.

Pois bem, só me resta ver como o filme termina e torcer para que mais reflexões como estas não aparecam em minha frente. Não estou acostumado com o tosco, quero o melhor, sempre.

Um comentário:

  1. Em Mal estar na civilização, Freud estremeceu a todos com verdade do tipo: o momento de maior excitação é quando tornamos o outro um objeto de nosso desejo. E você? Está para cafajeste ou vagabunda? Creio que você iria gostar de apanhar... eheheh

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