segunda-feira, 25 de abril de 2011

Devaneio

Estremeço ao te ver em meus sonhos, dono de meus pensamentos mais desavergonhados e de meus desejos mais picantes. Vejo seus olhos me encarando, suas pupilas dilatando-se vagarosamente, sua íris sorrindo de encontro a minha e o esverdeado fictício, aos poucos, enchendo-se de um castanho minguado em vermelho. Perco-me na imensidão de teus olhos antes de me dar conta de que estas se aproximando delicadamente. Seu corpo se move com espetacular singularidade, simétrico. Seus braços não são rochas, nem sua silhueta é bem-acabada, mas a harmonia me embriaga. Aos poucos posso sentir o seu cheiro, minhas narinas se abrem para receber o frescor de sua fragrância abraçada ao suor que já exala de seus poros, a mistura é provocante. Estremeço ao imaginar o toque, sinto-me despreparado para o atrito e desejo intimamente que o universo me dê mais alguns segundos de laboração. Tarde demais.

Meus pelos se eriçam ao choque, denunciando-me. Agora estou próximo o bastante para deleitar-me com teus detalhes. Sua mão, levemente calejada, insinuasse em minha própria. Meus dedos recuam, mas cedem com facilidade num fração indireta. Sinto minha espinha congelar. Seus olhos agora são oceanos, tão penetrantes que me sinto de alguma forma parte deles. Sinto-me invadido a cada instante e gosto disso, amo. Poucos palmos separam seu corpo do meu, cada milímetro é precioso para conservar a linha tênue entre o aparentemente correto e deliciosamente desvergonhado. Minha mente assinala a primeira alternativa, o restante do meu corpo aposta na segunda escolha.

Seus lábios se movem delicadamente para proferirem as primeiras palavras e sinto-me como se tivesse escutado esta voz por toda a minha vida. O timbre é perfeito: Intenso, calmo e sensual. A leve rouquidão me hipnotiza. Voz mais sublime não poderia não pertencer a beiços como aquele. Carnudos, delicados e insinuantes. Uma boca que não suplica por um sorriso endiabrado, mas o faz de bom-grado. Minha audição falha na compreensão, poucas sílabas assimiladas são insuficientes para explicar o contexto. Não me importo, não quando o vislumbre daquele sorriso me alucina. Está muito perto agora.

Meu próprio sorriso vem com instintiva reciprocidade, mas pilecado por uma timidez que me pertence, mas que gostaria eu de esquecer por meia vida. Meu riso é insignificante se comparado ao seu antecessor, meus lábios não são tão fascinante e nem estão envoltos de uma barba esmeradamente bem-cuidada e atraente. Sinto-me nervoso com a comparação, mas agarro-me à vontade de seguir em frente. Nada me faria recuar naquele instante, nem o bom senso e nem ao menos o ocasional complexo de inferioridade que habita nas entranhas de cada ser humano vivente.

Sinto-o percorrer meu próprio corpo com os olhos como um lobo observa a presa antes de abocanhá-la. Instantaneamente sinto meu membro enrijecer com tal possibilidade. As fantasias são milhares, os desejos são infinitos. Pela primeira vez toco o seu corpo e a sensação é entorpecente. Posso sentir o calor ruborizando-me a palma da mão, sentir os pelos por debaixo da camiseta convencional. Não resisto a uma empreitada mais arriscada e acabo por findar a trajetória em seu peito, os mamilos estão ali, riçados como os meus. Entreabro meus próprios lábios e permito-me emitir um gemido curto e quase inaudível. Já estou em frenesi.

O finete de suor na testa alheia vem como aviso do que se sucederia. De repente estávamos ali, contraindo a lei de Newton que diz que dois corpos não podem ocupar um mesmo espaço ao mesmo tempo. Quem dera fosse invenção, por que tudo o que eu queria era estar dentro dele. Podia senti-lo por completo, cada milímetro de seu corpo colado ao meu num abraço fervoroso. Não foi preciso mais de cinco segundos para termos vencido as muralhas do território desconhecido, éramos como monarcas um do outro. Só restava uma coisa.

O hálito corrompido por algumas tragadas estava próximo demais, mas ao mesmo tempo se esvaecia rapidamente. Por mais que tentasse colar meus próprios lábios nos dele, eu não conseguia. Era tarde demais. O sonho mais uma vez se descontruía e ele, o homem de meus devaneios, permanecia exatamente onde ele era divino, impecável e inflamante. No fim, o que estava diante de mim era o teto caramelo de meu próprio quarto. Sobre mim, o travesseiro esmagado num enlaçar insano.