E se tudo na vida fosse formado por minúsculos pontos, tão pequenos e impercepíteis que se dispoêm esmerados a olho-nu? Pontos, que por mais unidos que estivessem sempre iriam deixar um lugar vazio em seus intermédios, as vezes oblongos demais para estancar o sangramento, cessar o choro. Os espaços vazios jamais serão preenchidos, mesmo que camuflados ou subtraidos. Sempre faltará alguma coisa, e talvez essa seja a razão pelo qual vivemos buscando um propósito, uma eterna procura que parece que jamais cessará. É como se estivessimos interligados, coalizados com um outro ponto, num outro lugar. Essa talvez seja a definição mais louca para o que chamamos de alma-gêmea, mas ainda assim é uma caraterização. Eu acredito sim que em algum lugar existirá alguém capaz de me fazer conviver com os espaços entre mim, acredito sim que não me sentirei preenchido, mas amado. Amar não é preencher, é compartilhar. Meus defeitos serão os seus aborrecimentos, minhas lágrimas serão a sua angústia, meu toque será o seu arrepio, meu olhar será o descompassar. A reciprocidade não é tão ininterrompida, mas condizente. Espero encontrar o minúsculo ponto que me funde à razão de estar vivo, espero também que esse ponto traga consigo a beleza genuína, não a exterior. Quero também alguém repleto de sonhos, sonhos de papel e caneta, sonhos avultuosos, fascinantes. Sonhos que me permitam comungar da magia de se fazer planos a dois, sonhos que me dêem espaço para sonhar junto. Espero encontrar um ponto tímido, mas forte; bobo, mas constante; pequeno, mas confortável. Não busco um perfil, acreditem, prefiro imaginar o inimaginável. Aquela pessoa que aparecerá e me tomará completo, adentrará nos meus pensamentos como fumaça, percorrerá meu corpo e explorará áreas jamais tocadas. Espero poder reconhecê-lo quando chegar, já me cansa ter que olhar para a porta da entrada de um bar, esperando o grande amor da minha vida entrar por ali, sorrindo... E se ele entrar, como saberei? Como poderei justificar a espera se o esperado é totalmente inesperado? Será meu coração capaz de enxergar o que meus olhos humanos não vão conseguir? Será que um orgão tão mortal pode contêr o segredo de uma pergunta tão implexa? O segredo é não esperar, deixar-se levar. Fechar os olhos e tentar conviver com seus próprios espaços vazios, confortando-os com a expectativa do arrebatamento. Sorrir, sim, estarei sorrindo para tudo o que aparecer no meu caminho, mesmo porque acredito que nada é por acaso e tudo, tudo está interligado. Conforta-me saber que estarei cada vez mais perto de encontrar o objetivo de estar vivo, a linha que nos separa é tão tênue e ao mesmo tempo tão viva, tão ávida...Ela está nos guiando, está nos trazendo um para junto do outro. Não demorará para que eu deixe de olhar para a porta do bar, esperando você entrar por ali e me cumprimentar. Você estará do meu lado, vocês e seus pontos, seus buracos. E eu saberei que é você, por que nada mais na vida importará, a não ser nós dois. Uma nova conjulgação verbal, o eu deixar de ser eu para tornar-se nós, ao mesmo tempo em que milhões de 'eus' pelo mundo brilham, brilham por finalmente ter se tornado nós. Sim, nós, não existem pontos sem nós.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Vínculo
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Rafael, esse texto está maravilhoso." E eu saberei que é você, por que nada mais na vida importará, a não ser nós dois. Uma nova conjulgação verbal, o eu deixar de ser eu para se tornar-se nós...". Nessa frase reflete o desejo de muitos.
ResponderExcluirDo seu leitor Marcos.
...
ResponderExcluirAmei, muito!
ResponderExcluirÉ de longe um dos seus textos mais bonitos. É uma maneira muito interessante de se enxergar a alma gêmea... aquela pessoa que não nos completará, como se fôssemos uma metade e não um indivíduo, mas alguém que compartilhe sentimentos e desejos.
ResponderExcluirAcho que essa é a base de qualquer relacionamento, se não de romance, mas também aquelas do dia-a-dia. Sempre buscamos no outro um preenchimento da lacuna, mas isso é impossível, não é?! Por mais que tentemos, que haja um esforço, por mais que possa nos ser desejável... não cabe apenas a um decidir, o que é um resultado de um somatório simples: um mais um são dois. O complicado é entender a posição do outro.. na maioria das vezes é uma tarefa difícil.
Mas voltanto a questão da cumplicidade citada no texto, a verdadeira base do relacionamento, não podemos impor nosso modo aos outros mas tentar ser complacentes. Compreender e aceitar o que o outro tem a oferecer, sendo coisas boas ou não.
Se há um sentimento, deixe-o fluir... e aceite a fluidez do parceiro, companheiro, marido, mulher, amigo, amiga, vizinho, etc. Isso, acima de tudo, além da obviedade do caráter do respeito, é uma marca do ser humano. Aquele que não é capaz de entender essas lacunas, está perdendo o que o caracteriza como um homem.
Ninguém é perfeito... mas todos somos humanos!
O texto traz que nada é por acaso... tudo está interligado. Tudo mesmo,acrescento eu. As situações que vivemos, as pessoas que conehcemos (de qual maneira for), o sentimentos que provamos e as cosias que presenciamos. Por fim, com a analogia feita que considero brilhante, fazendo link com as primeiras frases com a última, fechando a psotagem com chave de ouro: Não existe ponto sem nó.
Parabéns Rafael... Mais uma vez conseguiu me emocionar com seus textos incríveis, como sempre lhe disse que eram. Você é uma pessoa incrivelmente talentosa e eu sei que tem um excelente coração. Desejo-te milhões de pontos que compartilharão contigo alegrias e tristezas, sinceramente, espero poder ser um destes (seu ponto ainda está aqui, para mim) e é claro, um ponto especial que fará um nó, um laço forte e especial, que brilhe sobre todos os outros que passaram an sua vida e que te complete como você merece meu amigo. E não se esqueça que se trata de outro somatório simples: 'eu' mais 'eu' resulta em 'nós'!
^^
Lindo texto! Talvez a vida seja mesmo formada por pontos.
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