sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ensaio sobre viver

Infelizmente essa é a vida, e você só está no começo de tudo. Os sofrimentos se atenuarão e você verá que é plausível gramar o choro e suportar a agonia. Os amores se tornarão menos amáveis e mais reais, as circunstâncias serão menos românticas e os pequenos detalhes serão ainda menores. Os amigos irão embora, aproveitarão a primeira oportunidade para trilhar outro caminho, caminho esse que dificilmente será o seu. Os que ficarão serão maduros o suficiente para aceitar seus erros e caprichos, te conhecerão como ninguém e serão mais rígidos que de costume. Os sorrisos inúteis desaparecerão, as palavras de acalentamento serão mais raras. Viverás uma época em que não existirá esbanjamento, mas temperança.

És muito jovem meu rapaz, ainda vives pela exuberância e não pela necessidade. Aprende com teus pais, que trilharam todo o caminho que ainda é areia aos seus olhos, que ainda podemos errar. Os erros infantis não são justificáveis, mas impreteríveis. Precisas errar para encontrar a solução que não uma fórmula matemática, aliás, não falamos de números quando comemoramos nossos aniversários, mas de experiência. Maturidade não é pensar primoroso, ser centrado ou saber comportar-se em núpcias. Ser maduro tem haver muito mais em ouvir do que falar, está mais ligado a entender e questionar, não entender e balançar a cabeça. Exercerás tua sabedoria e entenderás que tudo isso que estás passando agora é tão ínfemo se comparado ao resto da jornada. A rota continua e a caminhada é ríspida. Não espere que te ponham no braço ou que aliviem seu cansaço, essa é uma viagem indivisível. Prometa não acreditar em todas as palavras e aprenda a confiar nos seus extintos, sinta o seu coração, o seu maior aliado.

Acredite que jamais estarás sozinho se souber aproveitar sua própria companhia. Conhecerás o grande amor de sua vida quando começar a se amar e se pôr em primeiro lugar de tudo; Esse é um amor legítimo, inesgotável. Você e você mesmo podem viver uma linda história de paixão juntos e serem felizes para sempre no final. Aliás, quando se ama a si mesmo não existe um fim, só o recomeço. Felizmente esse é o ciclo da vida, e você está em algum lugar do meio, pronto para passar novamente pelo começo de tudo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Apotegma

Desde quando se permitir tornou-se sinônimo incontestável de errar? Aceitar não é pecar, só se pecado estiver interlaçado com espontaneidade. Declaro-me culpado então, por sorrir sem motivo aparente, chorar sem qualquer explicação lógica e até por falar quando todos desejariam definhar no silêncio. Sou réu da minha própria condição de ser pensante, pensamentos esses que me fizeram ser visto singularmente num mundo tão pluralizado. Sou acusado o tempo todo por ser eu mesmo, incriminado pelos meus olhares repletos de 'quês', por meus lábios crispados quando revelam a ânsia de provar de tal deleite, do roer de unhas que me dá tempo de pensar num plano B caso o seu antecessor não funcione. Cada mínimo detalhe ostenta-se como um testemunho silencioso, um atestado tão genuíno quanto tudo o que ainda não fiz e talvez nem deseje fazer. Desígnio fictício!

Atuar não é o meu predicado, sou um péssimo astro de minha própria vida. Decidi que não adianta decorar textos e deixar que as entrelinhas passem despercebidas. Resolvi jamais abrir um sinal de aspas sem antes fechar o transato, não é meu forte citar os outros e esquecer das minhas próprias locuções. Conformarei-me se minha platéia julgar tedioso todos os meus atos e engolirei o choro caso nem queiram ficar para ver o final, a tanto tempo descobri que não existe melhor expectador que a sua própria alma. Aplaudirei-me de pé, jogarei rosas sob meus calos só para declarar o esforço de ser eu. Não sou um personagem bidimencional, nem ao menos sou um personagem; ninguém jamais representaria a glória e o fracasso contido em minha vida com exatidão. Só eu. Eu, o acusado por ser quem é. Obstruido de defesa, obscurecido pelo júri mundano e setenciado a cumprir a pena de uma eternidade em minha companhia. Não me queixo, não por hora; As coisas sempre podem se tornar pior do que são.