domingo, 31 de outubro de 2010

Sobre a Perseverança – Parte I

Despe teu véu, ó musa inspiradora! Mostra-me o que há por detrás dos teus olhos cor de castanho, banhados num infinito ilimitado. Deixe-me mergulhar nas profundezas dos teus pensamentos e resgatar os milhares átimos de candidez sufocados, permita-me levá-los para jantar.

Mostre-se com seu melhor sorriso e esqueça a roupa, esqueça também das aparências se elas não lhe agradarem. Só sorria se quiseres, mas intencione ser genuíno.

Deite do meu lado e me ensine a contar estrelas, e se tiveres tempo me ensine a sonhar. Tenho estado numa condição atemporal a mim mesmo e já não sei a diferença entre dormir e acordar. Desperte-me para isto também, há de convir que sou aluno de um eterno lecionando. Sou pupilo de suas ricas pupilas apaziguadoras.

Ó deusa das profunduras selvagens, amestra-me para o que viver. Enumere seus tombos e me deixe sentir os machucados, permita-me aliar-me à cura, ser o seu remédio. Prenda-se a mim como o seu sustento, não tema que as estruturas não suportem o peso de sua jornada. Se for para cair, é melhor que caia acompanhado. E se estiver no chão, reze para que os demônios não lhe traguem para o inferno, peça também aos céus que me dêem força para te ajudar a levantar. Acostume-se com isso, nada melhor que dividir a carga.

És minha parada e eu sou o seu degrau de transição, eu sou seu ponto de equilíbrio entre o que é real e o que não é. É simples exercer tal função, é só estar oscilando entre os dois universos ao mesmo tempo. Queres subir para onde? O céu é o seu destino ou queres ir mais além? Confesso-te que os querubins não são tão gentis e os campos floridos não são tão floridos assim, só se você desejar que seja. Se quiseres visitar o martírio também posso ser o anfitrião, posso te mostrar que o fogo pode sim arder eternamente e que as queimaduras podem não doer depois de algum tempo. Sou mundano, admito. Vivo de perspectiva e de profundidade; Posso compartilhar isto contigo também.

Grite seu nome, Belerofonte! Não temas ser descoberto sobre suas facetas. Como me ensinastes, as máscaras esfarelaram-se, só teu rosto resta em teu semblante. Ó mestre da obstinação, partilhe de sua maior lição com seu aprendiz, ensine-me a ser quem eu sou e a gozar disto. Sou como ti, não uso disfarces, nem alegorias... Só minha alma encalvecida. Permita-me amar e te adorar pelo tempo suficiente para que se eternize. Eternidade, isto também te define.

(...)

3 comentários:

  1. Caraca. Poesia carregada de prosa, ou prosa carregada de poesia? Realidade ou ficção? Independente disso, belíssimo texto! Abraço!

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  2. Talvez você queira ser Pégaso, uma base sólida de eterna gratidão, mas que no final acaba caindo, como um aprendiz. Bom, isso já é discussão de mitologia.
    Belíssimmo texto, realmente, seu eu lírico está na complexidade das palavras, é nelas que você coloca sua essência.
    Mas devo dizer que seus textos mudaram um pouco de uns tempos para cá. Mesmo assim, gostaria de ter esse vocabulário. rsrs
    Devo confessar: assustou-me o fato de você visitar meu blog. Nunca havia deixado comentários. Fico muito feliz.
    Abraço

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