segunda-feira, 1 de março de 2010

Pretérito Imperfeito

Sabe o que é estranho? Perceber o quanto eu mudei em tão pouco tempo! Por exemplo, eu estava olhando meus cadernos escolares de alguns anos atrás e achei alguns dos muitos textos que eu costumava escrever, estou falando dos legíveis, obviamente. Há quatro anos eu não sabia o que era amar, só sabia o que era a obsseção. Lembro-me perfeitamente de todas as lágrimas derramadas em vão, todas as cenas de infantilidade que eu protagonizei. As bebedeiras enlouquecidas, as palavras dolorosas que proferi para amigos que eu gostaria que estivessem ao meu lado... Nossa, eu não tinha noção de que eu não era a única pessoa a amar e não ser correspondida.

"Eu podia dissertar sobre todas as dolorosas lágrimas que derramei até o presente momento, mas não existe o choro verdadeiro sem qualquer pingo de emoção. Eu podia listar todos os meus amores, os reais e os platônicos, os vividos e os não correspondidos, os mortos e os bem vividos, mas não. Cada qual com o seu cada qual, eu não iria gastar meu precioso tempo pedindo compreensão a leigos como vocês." eu escrevi certa vez. Ok, isso ainda representa muito de mim, mas como escrever sobre mim sem falar tudo que passei durante minha vida? Ainda mais que isso, porque menosprezar a capacidade de vocês em me compreender? Mais uma vez eu mostro que eu mudei muito, vejo-me quase como um estranho. Todo e qualquer ser humano, mesmo sem estudo e uma educação adequada, todos tem algo a acrescentar em sua vida. Seja uma palavra de consolo, um olhar lacrimejante, um abraço dado no momento certo. Todos somos integrantes de uma grande e falha peça de teatro, entramos e saímos de cena o tempo todo, atuamos, choramos, amamos e amamos mais um pouco antes de finalmente sair de cena.

"Eu poderia falar sobre sexo só para incitar-te. Compartilhar todas as minhas experiências só para deixar-te curioso até que ponto eu cheguei. Poderia descrever, em infemos detalhes, tudo e todos que me fizeram sentir prazer, mas não. Decidi não falar sobre nada.". Quanta baboseira. Falo como se tivesse um vasto currículo sexual, digno de uma auto-biografia. Não, hoje não tenho vergonha de dizer que me deitei com tantas pessoas quanto os dedos em minha mão direita. Excitei-me com muitas, senti meu membro enrijecer por diversas vezes, mas só poucos me fizeram concretizar o ato em si. Se sou inexperiente eu não sei, só sei que mesmo sem ter feito muito, ainda assim posso falar-lhe sobre muita coisa. A sensação é única, só para quem sente. Os suspiros, os gemidos, as mordidas nos lábios...Único.

Beiro os vinte anos de idade, mas sinto-me tão cansado como se tivesse vivido mais de setenta anos. Posso ser tão jovial quanto uma máquina registradora, tão fervoroso quanto um fósforo que se acende apenas por alguns segundos para repassar o seu calor. Posso te aconselhar, te beijar e jurar amor eterno, mas no final isso se perderá dentre os muitos textos que eu escrevi para todos os meus amantes. Textos esses que não representam mais nada para mim, passado. Por enquanto felicito-me em saber que ainda possuo sanidade suficiente para continuar a escrever sobre o que me vier a cabeça;

3 comentários:

  1. Interessante. Como já te falei certa vez, não tenho tanta habilidade para escrever assim. Aliás, nunca fiz muito, sempre fui adepto da preguiça. Acho que isso não mudou muito, apesar de tudo. Quero dizer, ainda sinto preguiça, mas pelo menos faço.

    Acho que mudanças todos sofremos, mas acredito que a essência permanece, única, individual... que somente a nós pertence. Talvez seja essa a graça da vida (ou não, rs). Eu senti (não que seja uma verdade) que muito deste texto remete ao último publicado, no que diz respeito a ser ouvido.. acho que é essa a sua meta.

    Antes você não tinha necessidade de falar, hoje tem. É um ponto de vista. Eu to quase chegando nos 21, mas me sinto com pelo menos o dobro. Sou um novo bem velho, mas com muito humor para alegrar quem está por perto (tbm conhecido como palhaço, rs). O importante, é levar o que temos de mais puro em nós, e isso é muito mais significativo na minha opinião.

    Gostei muito do texto e acho que um dia seu dedo vai cair por causa da minha inveja(rs). Enfim, todos mudamos, e vou usar de uma música do Charlie Brown Jr. para acabar aqui: "Podem me tirar tudo que tenho, só não podem me tirar as coisas boas que eu já fiz pra quem eu amo"

    ResponderExcluir
  2. Vou confessar que gostei mais de seus textos antigos que os atuais. Neles você parece mais sonhador, é como se fosse um menino brincando de ator. Não estou desprestigiando seus textos de agora, mas esses, encontrados agora, tesouros perdidos, fez meu coração palpitar diferente.

    ResponderExcluir
  3. Eu deliro lendo as coisas que você escreve, vendo como você se expressa.

    ResponderExcluir