domingo, 18 de novembro de 2012

Meueuemmim

Se somos quem queremos ser, quando escolhi ser eu? Quando meu ser se elegeu meu, quando designei meus predicados e, afinal de contas, quando preguei cada feitio, cada virtude e cada desconcerto na figura que viria a ser eu?
Quando abdiquei de um sorriso perfeito, de belos e delgados dentes cândidos e imáculos, para optar pelo meu singelo e amarelado riso envergonhado? Quando, me responda, troquei os belos fios alisados, macios e ensolarados, por madeixas tão enfurecidas, cabelos cacheados-sem-ver-pente? Em que ocasião desisti de ter um belo e universal torso robusto e atraente, para me conformar com o desjeito e insólito corpo que é meu?
Se somos quem intencionamos, por que sou tão inconstante? Por que meu humor ora fere a mim e aos que me rodeiam, chicoteia, rasga lágrimas, e outrora rompe sorrisos, emoções verdadeiras, amor? Por que sou só bom em certas coisas e não em tudo? Por que, por favor, responda-me, meu caráter é tão genioso, capaz de virar as costas para o díspar e  ao que é desarmônico do resto de mim? E porque, meu Deus, por que essa sensação constante de estar mutilado, desejoso de algo que me falta, de algo que, por vezes, nem me dou conta que existe?

A verdade é que, se somos quem não queremos ser, podemos escolher ser alguém diferente, só não podemos nos desprender de nossa essência, do fiapo d'alma que nos torna singular, que nos torna único. Odeio meus desarranjos mais do que tudo na vida, por que, talvez, eles representem os meus maiores fracassos visíveis a olho nu, mas, no fundo, também os amo. São meus defeitos que moldam minhas qualidades, esculpem com equilíbrio quem eu sou ou deixo de ser.

Se eu não fosse exatamente como sou agora, não teria passado pelas mesmas provações, vencido os tantos obstáculos que me foram designados, cativado os amigos que me cercam e os que desejam estar comigo e que nem me dou conta. Sou ser humano, sinônimo claro de imperfeição. Somos ciclos, seja na idade, seja na pessoalidade. Aquilo que me era adjetivo antes, hoje pode já não me servir mais, ter-se esquecido no fundo do armário, criado teia. Os desregramentos que me incomodam hoje não me incomodarão amanhã, e serão apagados.

Agora eu pergunto: Por que?

A resposta é simples. Se somos quem seremos ser, sou quem sou e nem me lembro do que era antes. Sou o presente de mim, primogênito do meu passado e progenitor do que de mim estar por vir. Sim, sou quem eu quero ser porque escolhi ser assim, e quando o meu eu não me for mais benquisto, não o serei mais.

No fim das contas não trocaria meu sorriso amarelado, meus cabelos revoltosos e encaracolados, meu corpo débil e desengonçado, meu temperamento estriduloso e nem meu gênio indomável por nada desse mundo.
Eles são eu, e eu sou eles. E você, quem é?

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