sexta-feira, 1 de julho de 2011

Oblívio

Dormir tornou-se um martírio se você me visita sempre que me deito. É teu rosto que surge na escuridão diante de mim, teu rosto que me sorri reluzindo a felicidade a me ver.

Tua lembrança ainda me deixa cativo, teu gosto ainda está na minha boca e eu não consigo imaginar o quão amargo é saber que o sabor se esvaece a cada dia. Já me falha na memória o pendor ao teu toque, a eloquência dos teus beijos. Já não me lembro com exatidão do teu cheiro, mas suponho que seja o mesmo que sinto nos momentos que me recordo do teu abraço. Sinto sua falta. Sinto falta dos teus olhos pregados aos meus, me observando, se não me despindo a alma. Teus olhos que me embriagavam, que abriam as portas de teu âmago para o meu deleite. Olhos que nem sei mais a cor, que nem lembro mais do brilho.

Sentir seu hálito junto a mim tornou-se um vício, um vício que aos poucos consumiu meu corpo e me entorpeceu pela dependência. Imagino sua respiração contra meu rosto, mas já não consigo sentir a fragrância ou a sensação. Do teu toque tão ponderado, lembro-me apenas que me acalentava. Do toque já não me lembro, nem da fibra de teus dedos, nem do trajeto de tuas mãos. Lembro-me somente do arrepio. Já é difícil recordar-me do atrito de nossos corpos, só me ocorre a excitação. Já não me importa de que patamar te encarava, teus centímetros foram diminuindo com a distância até se tornaram equivalentes a lembrança que se dilui diariamente.

Imagino a cor que teus cabelos tinham se refletidos pelo sol e me dô conta que nem me lembro mais do matiz principal. Lembro-me de passar horas inteiras acarinhando-os, aventurando-me sobre as mechas que tanto amava e que me eram tão receptivas. Mas não me lembro da sensação. Lembro-me dos domingos cinzentos longe de você, mas não me atento as tantas 'feiras' semanais em que você me dava a graça de suas visitas. Segunda-feira? Já não sei.

Meu corpo sente pela sua ausência e minh'alma reluta em se acostumar que você já não faz mais parte de mim. As lágrimas são as provas silenciosas de que você já habitou meu coração, são as únicas que compreendem que tua falta me subtrai a cada dia. Aos poucos sua presença se torna cada vez mais fraca e em minha mente tudo o que você significou pra mim se transforma numa lembrança inexpansiva. Já nem me lembro se foi real ou se veio num sonho deleitoso. Utopia ou não, são esses devaneios que eu daria tudo para descortinar novamente.

Sinto sua falta. Você que eu nem sei mais quem é, que nem lembro mais do nome.

3 comentários:

  1. Uau! Fiquei sem ar, chorei, quis ter escrito todas essas palavras; não queria ter vivido-as.
    Muito bonito! Parabéns!

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  2. A-DO-REI!
    Me fez lembrar de uma frase de Nietzsche:
    "Amamos desejar mais do que amamos o objeto de nosso desejo"

    Estou seguindo-te.
    Bjos..

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  3. Carácoles! Posts cada vez mais profundos e enigmáticos! Garoooto, escreve logo teu livro, hehe!

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