segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Apotegma

Desde quando se permitir tornou-se sinônimo incontestável de errar? Aceitar não é pecar, só se pecado estiver interlaçado com espontaneidade. Declaro-me culpado então, por sorrir sem motivo aparente, chorar sem qualquer explicação lógica e até por falar quando todos desejariam definhar no silêncio. Sou réu da minha própria condição de ser pensante, pensamentos esses que me fizeram ser visto singularmente num mundo tão pluralizado. Sou acusado o tempo todo por ser eu mesmo, incriminado pelos meus olhares repletos de 'quês', por meus lábios crispados quando revelam a ânsia de provar de tal deleite, do roer de unhas que me dá tempo de pensar num plano B caso o seu antecessor não funcione. Cada mínimo detalhe ostenta-se como um testemunho silencioso, um atestado tão genuíno quanto tudo o que ainda não fiz e talvez nem deseje fazer. Desígnio fictício!

Atuar não é o meu predicado, sou um péssimo astro de minha própria vida. Decidi que não adianta decorar textos e deixar que as entrelinhas passem despercebidas. Resolvi jamais abrir um sinal de aspas sem antes fechar o transato, não é meu forte citar os outros e esquecer das minhas próprias locuções. Conformarei-me se minha platéia julgar tedioso todos os meus atos e engolirei o choro caso nem queiram ficar para ver o final, a tanto tempo descobri que não existe melhor expectador que a sua própria alma. Aplaudirei-me de pé, jogarei rosas sob meus calos só para declarar o esforço de ser eu. Não sou um personagem bidimencional, nem ao menos sou um personagem; ninguém jamais representaria a glória e o fracasso contido em minha vida com exatidão. Só eu. Eu, o acusado por ser quem é. Obstruido de defesa, obscurecido pelo júri mundano e setenciado a cumprir a pena de uma eternidade em minha companhia. Não me queixo, não por hora; As coisas sempre podem se tornar pior do que são.

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