sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Un - Titled

Hoje descobri de que eu sou feito. Sou feito de sal e sol.
Busquei a carne em mim e só encontrei farelos, tive medo de me desmanchar em um milhão de fragmentos, um milhão de ínfemos pedaços singulares.
Olhei-me no espelho e vi a luz, o brilho que eu emanava me tornava invisível.
Alegrei-me, mesmo que meu sonho de infância tenha sido voar pelos ares como uma gaivota.
Abri minha mochila, coloquei dois pares de meias e uma carteira de cigarro.
Não precisava de mais nada, só do vento.
Vento tão forte que me carregava por entre tempestades e me sacudia sobre moinhos
Brisa suave, imaginária e mirabolante, fazia-me sentir renovado pela sua graça.
Cantava, cantava e cantava. Versos do eterno poeta que serei.
Flertei com princesas, esmaguei gigantes e enganei as bruxas de meu incosciente.
Dormi.
Sonhei que sonhava que eu podia me teletransportar para o futuro.
Acordava maravilhado, com sede, muita sede. Bebia da água que jamais tocara meu lábio e ao voltar para a realidade sentia minha boca áspera.
Me apaixonei centenas de vezes pelas mulheres mais lindas do mundo.
Tereza do sorriso amarelo e Maria da saia comprida demais para tampar os seus joelhos.
Julieta, minha Julieta. Onde está o seu Romeu?
Roubei bancos, levei todo o seu dinheiro. Gastei tudo com chiclete e com papéis de carta.
Não encontrei loja alguma que pudesse me vender um pouco de sabedoria.
Nadei despido, andei despido e permeneci assim.
Não existem alegorias defronte a mim, só a profunda e intrigante escala de cinza.
Bocejei, demasiadamente cansado, bocejei.
Não queria fechar os olhos, não quando meus pais não estavam em casa para controlar meu sono.
Descobri que sou elétrico, especialmente nas noites estreladas.
Estrelas elétricas, acendem e apagam, acendem e apagam. Elétricas
"Por favor, parem de brincar com a luz do céu!"
Fui vencido por abraços e chorei.
Chorei por não ser forte o suficiente para dizer Adeus quando deveria.
Contei feijões, cinco feijõesinhos para a pena e mais cinco para o desprezo.
Corri quilometros e mais quilometros sem transpirar uma única gota, pensei em você para não perder nada de mim, perdendo os atalhos sempre que passava um obstáculo.
Desvendei mistérios e criei mais alguns para manter a eterna rodatividade que é a vida.
Tomei chá com a morte, que me pareceu muito simpática.
"Adeus pivete, adeus", ela me dizia antes de bebericar mais um pouco de sua bebida.
"Bem-Vinda Morte, seja bem-vinda" respondia-lhe inocente, como um bom anfitrião para com sua visita.
Dois ou três cubos de açuçar? Quantos para adoçar esse coração tão amargo?
Felicitei-me ao descobrir o quão eu me tornara independente de mim mesmo.
Ninguém precisa de nada quando se têm a si e ao seu próprio corpo.
Posso andar, dançar, cantar, trabalhar e amar mil donzelas.
Só não consigo acabar com a sensação de que tudo em mim é profundamente inacabado

Feito de sal, misturado com o sol.
Incabado.

Um comentário:

  1. Eu gostei.. é bonito, mas confuso! Parece que quer dizer um milhão de coisas e, ao mesmo tempo, não me diz nada! rs

    Acho que vc precisava de um pouco d'água, açúcar e se tornar uma solução caseira... aquela que sempre ajuda qdo precisamos, não estamos nos sentindo bem ou quando simplesmente nos sentimos inacabados!^^

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