domingo, 18 de dezembro de 2011

Bula

Não há quem desvende os segredos de minh'alma sem antes passar pelos mistérios de meu corpo. Se sou um enigna, não sou irresolúvel. Desabrochar-me é um ofício arriscado; Tantas camadas podem naufragar suas tentativas prematuramente.

Encare-me como um jogo sem regras, um desporto sem doutrina. Não há mapa para quem deseja se aventurar em mim, nem bússola capaz de guiá-lo na direção correta.

Há competição em cada átimo de meu corpo: Eu contra o que você espera de mim; Eu gladiando contra o você, que quer se fazer hospedeiro, arrancar minhas virtudes e semear suas doutrinas. Não sou solo fértil, nem adubo para opiniões, sou ser infecundo para influências inscientes.

Sou oceano colérico na superficie, e calmaria em meu âmago. Sete mares não serão suficientes para navegar-me, mas serão para tragar-lhe para o fundo.

Para se alimentar de mim deve-se degustar cuidadosamente; O amargo do ínicio pode ser fatal, mas só os obstinados descobrirão que termino em doce. Não há receita para me reproduzir, muito menos um meio de descobrir minha composição. Nem xícaras nem colheres de sopa podem exatificar minha individualidade.

Se revelar-me é uma arte, é das mais abstratas; se é uma ciência, é a mais derivativa dentre todas as outras; se é matemática, é a equação com maior número de raízes possiveis, ou com nenhuma capaz.

Não pense que me conhece, este é um predicado que nem a mim se emprega.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Findo

Não me interessa voltar no tempo. O passado já se foi, virou cinza e só sobrevive em nossa lembrança. Os erros pretéritos continuam erros, as feridas continuam sangrando e os amores ceifados permanecem mutilados.

Se eu pudesse voltar no tempo para corrigir qualquer coisa que tenha feito, jamais o faria. Não quando meus pecados me definem, os passos que dei decretam a direção por onde eu fui. Se errei por omitir, permanecerei errante, túmulo para meus devaneios. Se magoei alguém que não deveria, perdão. Não posso estancar a cissura, mas posso velar pela sua cicatrização. Se não amei alguém que me amava, sinto muito; Certas coisas devem continuar platônicas por tempo indeterminado. Se sorri quando todos esperavam que eu chorasse, não me arrependo; A graça de ser quem sou só a mim interessa. Se criei obstáculos, se levantei muretas ao meu redor, se recusei a intimidade que me ofereciam, fiz porque assim sou, e o sou indenpendente do que você quer que eu seja.

Estou mais interessado no futuro e em suas dádivas. O destino que me é reservado e é esperado com ânsia, as promessas de dias melhores, de momentos mais intensos, de pessoas mais sinceras. Aspiro pelo que é meu por direito, mas não nego meu dever de lutar para conquistá-lo.