quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Roteiro

Decidi te cultivar dentro de mim! Cada lembrança, cada toque e odor permanecerá guardado na minha alma. Decidi eliminar as pragas e semear tudo de esmerado que vivemos juntos, regar as exultações e escudar o elo.

Não vou viver de máculas, não quando existe uma vida sorrindo para mim, encorajando-me a me desprender do rancor, seguir o meu caminho de cabeça erguida. Deixarei a exasperação no passado, o ontem não é mais convidativo. De passado vive o homem que é fraco para perseverar um futuro. Viverei o agora e, agora, quero viver.

Quero existir sem lamúrias, sem excesso de carga. Quero me entregar ao ardor de exalar existência, quero transpirar vida e inspirar bem-querer.

Quero te ter como uma recordação, não como uma fotografia. Poder te enxergar em minha mente em múltiplas dimensões, conheço tantos ângulos teus que o semblante deixou de ser estático; Prefiro a aresta de dentro. Lembrar-te-ei e aplicarei teus conselhos na minha jornada, atento para com as pedras, vigilante para com os erros de barro e pó. Manifestarei-me como aprendiz, principiante do que é sentir. Leigo se o assunto é alheio ao meu domínio. Cada pessoa é uma lição diferente, não existe um congenérico.

Por ti irei sorrir sempre que possível, sorrir para abrir portas e fechar janelas. Sorrir para não sofrer e sofrer por não sorrir, a inflexão se faz verdadeira. Sorrir quando me for conveniente, não quando me for solicitado.

Descobri a vereda que passa pelo coração, rota dificíl, areada. Descobri que o segredo é não seguir as placas, mas percorrer a trilha, desarvorado. Assim continuo, não por continuar, mas por suspirar novos sopros. Caminhos que já andei não ando mais, não sou peregrino retrasado. Caminhos que desviei, se puder, projeto voltar; Poucas coisas nessa jornada são reversíveis. Escolhas erradas sempre serão inoportunas, quiméricas dentro de nossa imaginação que insiste em indagar: E se?

Hoje vou te guardar no peito e acarinhar-te em meu latejo, só por hoje quero colher você. Assim, impreterívelmente, terei o melhor de você dentro de mim.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Berilo

Os gregos reconheciam que essa pedra poderia ser empregada para melhorar a visão, e denominavam-na ”Beryllos”, que significa “óculos”. Os romanos lapidavam-no para servir de óculos, o que permitia observar melhor as lutas dos gladiadores. Consta que o próprio imperador Nero tinha tais óculos.

Ser de mil olhos, terrificante.
Mil íris policromadas refletindo a coréia d'alma.
Imensurável és tu, criatura sobreceleste.
Que vigia e contempla os demônios particulares.

Ratoeira funesta, armadilha de corações necessitados
Abrigo dos que choram, certeza dos enfronhados.
Predicado preexcelso, dono de harta vivacidade,
Teu pórtico é sublime, apaixonado.

Entrego-me ao teu domínio, orfão de acolhimento
Busco chamego nos tons, nos vermelhos afogados.
Quero habitar dentro de ti, gracejar do teu abraço.
Deixe-me vislumbrá-lo, cativar teu entusiasmo.

Quero ser quem sou, espelho de minha mente!
Não quero ser reflexo, nem transcrito em esteriótipos.
Quero ser arte, me admirar. Quero ser notável.
Quero te ver esquecer teu juízo sobre mim, afável.

Monstro tão belo que induz ao regozijo,
Faça-me sorrir mais uma vez, mesmo que sozinho.
Deixei-me ser teu amante, teu concubino apaixonado.
Por que o antes e o depois, agora, viram passado.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Lágrimas de Apache

As Lágrimas de Apache surgiram do esfriamento repentino de lava por água fria ou gelo. De acordo com as lendas indígenas, a Lágrima de Apache surgiu quando o homem branco expropriou os índios de suas terras. Estes ficaram tão tristes que começaram a chorar todos ao mesmo tempo. Suas lágrimas caíram sobre a terra, onde se transformaram em lágrimas negras, sólidas, em memória dos apaches. Por isso até hoje as Lágrimas de Apache são consideradas símbolo de liberdade, da força, da saúde por todos os povos indígenas..

O estigma d'alma é mais profundo. As feridas que não casquejam e nem repelem, feridas que jorram prole, pulsam sem ritmo, sem propósito. A lágrima que chora pra dentro é mais salgada, castiga a temperança e adormece o atrativo. Lágrima que vem para secar, desacorde. O choro que arranha o âmago, destroí a benquerença e finda com a admiração. A tristeza que nasce forte não morre, só se converte em simulado. A desgraça silenciosa que conquista torrão aos poucos e se apodera da essência, que não retrocede, só se afixa. Infelicidade é viver sem deleite, acautelando-se com o passo seguinte, prevendo o degráu a ser alçado. Não existe o por acaso, só o premeditado.

A crosta protetora do íntimo é muito tênue, por vezes não possui vigor para lutar contra a miséria. Casca que desfarela-se, se esvaece por entre as veias e riachos da compleição. Corpo tão fraco que não suporta o adeus, asca anatomia que só se adapta ao outro, mas não se fortalece com seu próprio regozijo. Coração inseguro que não cumpre seu destino, opta por adstringir-se aos lêmures do passado. Coração que não bate, mas toma fôlego, inspirando a ultimato que lhe foi afiançado, pronto para sentença de esquecer mais um dentre tantos obliterados. Têmpera que cansou de ser circuito, e que deseja estagnar num único momento. Por mais que a melancolia seja estrênua, não supera jamais a capacidade de emenda do ser humano, nada o destroí, só fortalece.