segunda-feira, 10 de maio de 2010

Luxúria

Sinta a batida. O ritmo é frenético, inflamante.
Meu coração pulsa, meus músculos vibram e meu orgão se eriça. Olhares por toda a volta. O toque, a saliva, o sexo. Não posso parar de me mexer, já não sou mais dono de meu corpo. Meus olhos se dilatam perante a elucidação. Mesclas de vermelho, azul e amarelo se fundem perante minha íris. O descompassar da pancada me alucina, o cheiro já não é mais cheiro, é gosto. Estou louco? Se não, o que está acontecendo comigo? Todos os meus valores e conceitos me abandonaram, me deixaram sozinhos na pista. Sou apenas mais um corpo, mais um perante as dezenas de anatomias que se subvertem ao toque. Quero todos e todos me querem, posso sentir. Fecho os meus olhos e me apoio em qualquer sufrágio, não preciso saber qual o meu refúgio, nem quero saber. Esmoreço ao sentir seu suor em contato ao meu, seu corpo vulcânico. Percorro minhas mãos por todo o perimetro de sua compleição, desvendando-te por completo. Me aproximo o bastante para sentir sua respiração ofegante, deleito-me com o bálsamo peculiar que transpiras. Já não posso mais voltar atrás, eu já te pertenco. Deixo-me ser levado pela opressão e me entrego ao desconhecido, não antes de arquejar um gemido curto e despreocupado. Findou-se, sou mais uma vítima dos prazeres carnais. Sinta-me, batida.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Nitescência.

Eis o que me resta; As cinzas, a temível escala de cinza que me assombra, me tira a cor. A palheta de minh'alma já não consegue mais sentir variação, não vê, não cheira. Estou defeituoso? Por quê será que preciso de tantos tons de amarelos berrantes, vermelhos ácidos e azuís celestes para me sentir vivo? Por quê não posso simplesmente seguir, criar meu próprio arco-íris? Não. O desconcerto não está em mim, me recuso a acreditar. Sou a plena vicissitude e a possivel discrepância entre os meios, não sou o branco nem o preto. Rotule-me como o malvado da história e terás uma estória para contar, aceite-me como o moçinho e ceda o seu próprio lugar, torne-se expectador! É fácil, muito fácil alvitrar meu exíguo matiz, mais que fácil, é sábio! Por qual outro motivo eu estaria tão destacado? Não sou o violeta, o púrpura ou verde, não chamo tanta atenção para minha aparência, sou atordoante. Se sou sem vida, sou seus defeitos colecionados, todos e quaisquers vícios possíveis na face da terra. Sou sinônimo de humilhação, dor e de aniquilamento, simplesmente por ser eu o ingrediente básico para sua criação. Estou em tudo, menos em seus momentos felizes. Você instruiu-os que eu não sentia piedade, que eu não amava, não chorava, não media as consequências por ser tão intriguista. Tenho que discordar de você, caro rapaz. Tire as botas uma última vez, acomode-se para auscultar meus suplícios finais. Perdoe-me por não ser o rosado nos lábios de seu amado, por não ser o anil que preenche a nota de sua espécie mais alta. Anistie-me por não ser ausente de pigmentação e assim tornar-me o transparente do alcool que bebes todos os fins de semana, por favor, não me culpe por não ter o tom do tabaco que alimenta seu vício a qualquer sintoma de necessidade. Poupe-me pela falta de tato e por não ser quem você esperava, não é minha culpa ser tão mutável.

Sorte de hoje: Amigo é aquele que conhece e ama você como você é (07/05/2010)